Todas as coisas pequenas

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A poesia contemporânea pode ser considerada pela qualidade e alcance da indagação colocada por cada poeta. Num mundo em que a produção simbólica está reificada em prateleiras de supermercado restam, para a arte, dois caminhos, o da rendição à sua condição minoritária de autista em Wall Street e o da rendição ao plano de carreira do artista, seja ele músico, poeta ou pintor, que então terá o seu quinhão, presumivelmente breve, consumível. Nesse sentido é que importa a qualidade da indagação, pois não há critérios objetivos razoáveis e confiáveis ao nosso dispor e muitas vezes uma literatura muito pueril é tida por profunda, lida e celebrada. Em Todas as pequenas coisas (Hedra, 80 pp., R$ 18), Noemi Jaffe coloca-se em busca de uma narrativa de origem marcada pelo tom sentencioso do discurso bíblico em parte dos poemas e em outros situa-se num registro mais doméstico, marcado pela ternura e o conforto da relação entre as coisas e seus nomes ou entre o mundo e a consciência. Essas escolhas indicam alternativas recentemente consolidadas na poesia brasileira contemporânea, de um lado ao discurso marcado pela exigência de uma posição política proeminente e, de outro, à patrulha anti-subjetivista da poesia formalista.