Augusto e Lea

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About this book

Fato: uma doença fatal detectada em uma família bem-sucedida da elite paulista. Conseqüências: quebra de uma aparente harmonia familiar e revelações sobre segredos guardados por tantos anos. Forma: depoimento das oito vozes envolvidas na tragédia. O resultado é um livro fascinante e envolvente, fruto de uma história real com sabor de romance. O autor do feito é o historiador José Carlos Sebe B. Meihy, consultor de roteiros de televisão e um dos maiores especialistas em História oral do país. Respeitado por suas pesquisas rigorosas e dono de uma escrita deliciosa, já teve alguns de seus textos usados como apoio para telenovelas. Augusto e Lea: um caso de (des)amor em tempos modernos certamente pode render uma. Das boas.Trecho do Livro“A vida é um obscuro advérbio de tempo.”Abgar Renaut Asérie de histórias que segue é resultado de diversos encontros que mantive com os participantes de uma contundente aventura familiar. A delicadeza da situação convocava o dever de revelar um conjunto de falas vazadas com forte teor dramático, que, contudo, algumas vezes ganhava o contorno contrastante entre a ira e a ternura, entre o viso da solidariedade e a dureza do julgamento. Houve também o registro de ressentimentos que dialogavam com orientações terapêuticas, tudo, porém, movido pela dinâmica da vida doméstica sintetizada em um grupo parental que comprometia valores morais e estruturas da sociedade como um todo. Ainda que nem todas as entrevistas aqui contidas tivessem acontecido na casa que serviu de cenário para a situação geral, ela foi sempre evocada como o ponto de unidade, uma espécie de palco para representações que discutiam a persistência de valores e suas alterações no tempo presente. Casa, portanto, estranho cenário da trama e da dissolução dos laços atados por uma família que se fez na junção do capital e do trabalho, das alianças entre a elite e os grupos subalternos. As costuras da história alinhavaram vidas que, contudo, se questionam em face da fatalidade do futuro.Os rumos do projeto da família Fonseca – que teve o nome trocado a fim de evitar identificação – foram talhados por sinais da modernidade urbana de uma metrópole em transformações. A cidade, exatamente o espaço definidor da família que opera no ramo da construção civil, serviu de ambiente para dramas que se perderiam no silêncio das multidões de outras experiências que, porém, em essência respondem pela dinâmica das mudanças. Em sentido duplo, a construção e a destruição serviram de metáfora sinistra para demonstrar os movimentos exigidos pela adequação de modos conservadores e os desafios dos novos tempos. A ordem das narrativas, basicamente, seguiu a orientação dada por Augusto, o personagem pai, deflagrador dessa trama. De certa forma, a seqüência das histórias foi feita segundo a exposição mantida, ainda que em casos de entrevistas múltiplas ocorressem intermitências entre uma e outra pessoa.Um dos pontos mais perturbadores dessa série de histórias de vida é o paradoxo entre a decisão das pessoas em participar contando sua experiência e o fato de fazê-lo mantendo uma espécie de autocrítica ou censura por se verem expostos a uma situação de eventual publicidade. Entre o privado e o público, entre o segredo e sua divulgação, situavam-se os embates entre o velho e o novo. Foi, no fundo, a força da história conjunta que determinou a conduta participativa de todos e fez com que se integrassem na construção de uma narrativa que lhes servia como espelho para a devolução da própria imagem em um jogo de relações renovado. O acerto de contas entre o passado e o desafio do futuro constituiram num instante de incertezas, mas a inviabilidade de se manter na cadência do passado os impelia à narrativa que, em conjunto, refletia o peso da circunstância histórica na vida comunitária. E ninguém sairia impune de uma experiência tão contundente. O tempo das histórias, portanto, mostrou-se capaz de descrever em conjunto uma aventura que teria, na dinâmica do porvir iminente e implacável, os resultados que deixavam de serparticulares, pessoais, secretos. A memória, assim, mostrava mais do que os mecanismos de sua construção, as fronteiras que suportariam reacomodações capazes de forjar identidades grupais mais definidas. E, nesse sentido, a imperiosidade de definições ante o futuro imediato fazia com que o resultado deixasse de ser um exercício de memória ou percepção individuais e ganhasse os contornos desejáveis de uma trama parental que, por sua vez, apenas faria sentido se inscrita em processos mais amplos, urbanos, culturais. A justificação dos dramas vividos em uma casa de família se explicaria pelo seu papel na cidade. A cidade imersa na cultura nacional, por sua vez, daria sentido aos preconceitos, às pressões sociais, alternativas geradas por um fator que mexeria nos cofres bem guardados da tradição. Em termos gerais, a história que resultou foi uma combinação de fragmentos que ganham sentido na reunião das diversas visões que se reintegram e se projetam em outro espaço psicológico e material. Em termos pessoais, sendo eu o ouvinte de todos, aprendi a força das mensagens enviadas de uns para outros e notei que, ao me tornar #8220;registrador”, fui visto como um caderno em branco no qual as pessoas escreviam suas experiências como quem, de um certo jeito, acertava conta com uma história que, afinal, não era apenas só deles, mas sim de um mundo urbano em mudanças aceleradas.Retirado do Site da Editora Contexto

Book Details

ISBN13 9788572443296
ISBN10 8572443290
Pages 176
Language PT
Import Source Skoob
Created At January 30, 2025
Updated At January 30, 2025

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