Pivetim

About this book

O tema da infância desassistida não é estranho à literatura juvenil. O mais famoso dos “meninos de rua”, Oliver Twist, deu lugar a inúmeros relatos sobre a tragédia das crianças obrigadas a “se virar” sozinhas. Pivetim mostra o cotidiano de um grupo de meninos em situação de rua como o filme Cidade de Deus fizera alguns anos atrás, desde o ponto de vista da criança. A originalidade da obra do Délcio Teobaldo, que venceu o 4º Prêmio Barco a Vapor em 2008, reside na alternância, – e, muitas vezes, sobreposição – da ingenuidade da visão infantil e a dureza da fome e a violência física. Coincidindo com os 50 anos da Declaração Universal dos Direitos da Criança, Pivetim aborda, de maneira direta e corajosa, uma temática delicada, a cultura de rua, cheia de perigos iminentes como o engasgo (a morte por envenenamento) e o visto (o acesso à vida comunitária, através da submissão moral). O autor, Délcio Teobaldo, mergulha nesse “mundo cão” contrapondo cenas de violência com momentos de distensão lírica, saltando da sarjeta para as estrelas, colocando um pé no chão, outro no sonho.Nesse compasso, Pivetim revela que é criança como qualquer garoto de sua idade, com medo de crescer e precisando de afeto e compreensão, que ele encontra no grupo, como o próprio Teobaldo explica: “Entre esses meninos, valores como amizade e solidariedade não são abstrações. Tudo é muito prático. Aprendido no tranco, na brodagem. Amizade ou solidariedade é dividir o mesmo jornal, cobertor, papelão, marquise ou rango que descolaram naquele dia. Esta é a ética. Não pode ser negociada. Talvez por isto mesmo tenham tanto medo de crescer, de entrar na puberdade, de virar "sujeito homem", porque então as relações se fragmentam; eles passam a ser visíveis; ganham uma identidade numérica e, contraditoriamente, ao invés de adquirir direitos civis, ficam expostos às sanções penais.”Aliás, a elaboração de estratégias de relacionamento e sobrevivência dos companheiros de “viração”, Carol, Bala Perdida, Dimba e Maravilha ocupa boa parte do romance. Ao apresentar as particularidades de cada criança, o livro revela as regras e leis próprias da rua, onde se retira força da covardia e o medo é a maior proteção. Um livro que mostra que aos meninos em situação de rua, tudo é dado pela metade, do carinho, à liberdade de ir e vir pra onde quer: “Isso é pra moscas, pardais, pombos e gatos. Pra gente, não.”Sobre o autor - Délcio Teobaldo é mineiro de Ponte Nova, vivendo há anos no Rio de Janeiro. Jornalista, produtor e diretor de cinema e televisão, artista plástico, etnomusicólogo, ele ainda é autor de livros de ensaio, conto e de obras infanto-juvenis como Isto é coisa da idade e Quatro trancados no quarto. Pivetim é seu romance de estreia.