Harry Potter - As Razões do Sucesso

About this book

Harry Potter, personagem imaginária, tornou-se uma lenda viva em nosso mundo real e fez de sua autora, a inglesa Joanne K. Rowling, uma celebridade. Nunca uma série alcançou tamanho sucesso em tantos países. Notícia duplamente auspiciosa. Primeiro, porque milhões de crianças, jovens e adultos aproximaram-se dos livros. Segundo, e mais importante, porque esse fenômeno não reproduz os padrões que estabelecem uma relação inversa entre quantidade e qualidade. As aventuras de Harry Potter são boa literatura. É o que nos diz Isabelle Smadja, psicanalista, doutora em estética e professora de filosofia. Ao tentar compreender o encanto que os livros provocam, ela mostra que as histórias do pequeno bruxo contêm muitas camadas superpostas que remetem a contos, lendas, mitologias, relatos bíblicos e acontecimentos do mundo contemporâneo. Com humor e imaginação, usam o universo da bruxaria para tratar de desejos e fantasias com as quais nem sempre a criança e o adolescente sabem lidar. Valorizam os grandes temas do humanismo, da não-violência, da responsabilidade pessoal, mas sem pieguices; a opção pelo Bem, muitas vezes, impõe o dever da desobediência. Esse dever transparece até mesmo nas escolhas pessoais de Joanne K. Rowling, que parece sempre caminhar na contra-mão. Harry Potter e a Pedra Filosofal, o primeiro livro da série, tinha pouco mais de 200 páginas e foi rejeitado por várias editoras inglesas até que, em 1997, a casa Bloomsbury, bastante modesta, aceitou publicá-lo. Com o sucesso e contra as expectativas mais prováveis – o número de páginas só fez crescer de livro para livro: Harry Potter e a Câmara Secreta tem mais de 350, Harry Potter e o Prisoneiro de Azkaban tem 450, Harry Potter e o Cálice de Fogo, mais de 600, e o quinto livro, Harry Potter e a Ordem da Fênix chega a quase 800 páginas. Tudo indica que o propósito de suprir amplamente a paixão de ler despertada levou a melhor sobre a racionalidade banal que orienta lançamentos de mercadorias de rentabilidade comprovada. “Harry Potter” , diz Isabelle Smadja, “não é uma obra que faz apologia do mistério ou do irracional, mas também não é um livro que se apóia, para expor sua moral, somente na racionalidade. É um conto de fadas, mesmo que a autora tenha preferido trocar o disfarce de fada pela capa de mágico. E, como em um conto de fadas, o ensinamento que transmite baseia sua matéria nos mistérios do inconsciente e do imaginário.”